IAB Campinas

Capela de Santa Cruz

A Capela de Santa Cruz reúne elementos da chamada “modernização pombalina” (trazidos ao Brasil por engenheiros militares condicionados pelas obras de reconstrução de Lisboa), mesclados “às regras de composição do neoclássico histórico introduzido no Rio de Janeiro pela Missão Francesa” (Carlos Lemos), e que em território paulista enfrentaram resistencias.

Estes elementos se acham presentes numa edificação de taipa de pilão (1,1m) que apresenta, inicialmente, características da modernização defendida por Marquês de Pombal nas janelas de vergas curvas e molduras em “peito de pomba” sobre as envasaduras recurvadas (modernizaçao pombalina), mas que também assume aspectos neoclássicos em sua fachada com frontão, janelas em arco pleno, platibandas e colunas com capitel e base, porta com arco pleno na bandeira. O edifício conta também com um muro frontal com trabalhos em tiolos no modelo ferroviário.

Aspectos arquitetônicos independentes do estilo (período histórico de construção, evolução e mudanças do edifício)
Segundo Edmo Goulart, num período anterior a 1814 já se encontrava presente no Largo de Santa Cruz uma tradicional capela e uma grande cruz, algumas moradias e anos depois, um incipiente comércio. No entanto, data de 1822 a deliberação da Câmara Municipal de abrir uma rua na continuidade do pátio da nova Igreja de Santa Cruz que a Vila de São Carlos pretendia construir nas proximidades do pouso. Seu terreno seria demarcado com quatro estacas e uma cruz (Jolumá Brito, citado pela CSPC), mas caberia aos fiéis erguer o edifício com a finalidade de oferecer missa aos domingos e dias santos. A edificação foi recoberta e dotada da santa cruz, mas apenas em 1833, ela foi aprovada pelo Reverendo visitador José Francisco Aranha Barreto de Camargo (Jolumá Brito). As debilidades da construção, entretanto, exigiram atenção e já em 1842, em condições precárias, a capela precisou ser reerguida, refazendo-se os vigamentos e o telhado. Em seguida, o templo recebeu o altar e retábulo, quatro tribunas, duas janelas, coro e escada, além de três portas, quatro janelas e uma cruz (Jolumá Brito, vol. 2). O templo viveria, ainda, novas alterações em 1854 (Amaral Lapa) e em 1869, ocasião em que a Câmara Municipal também expede autorização para a demolição do rancho tropeiro. De qualquer forma, segundo Jolumá Brito, o templo se revelaria novamente em péssimo estado em 1880, afirmando Leopoldo Amaral no Almanaque de 1901 que a capela se constituía num “templo pequeno cuja história é ignorada”.

Estado físico de preservação (níveis de conservação, negligência e abandono)
No curso de mais cem anos e em regime de semi clausura, as irmãs dominicanas utilizaram a capela em sua rotina diária de orações e trabalhos, assim como procederam à lavagem do tempo na média de duas a três vezes por semana.

Transformações, adaptações, restauração
Em 2001, em resposta à solicitação encaminhada à Prefeitura pela arquiteta Rosa Maria Varella Silveira, procedeu-se uma revisão do telhado e madeiramento da capela. Em 2003 deu-se a revitalização do telhado com troca de telhas respeitando o padrão original. Também se procedeu a uma revisão das instalações elétricas e hidráulicas que se encontravam em situação precária e adotou-se medidas de salvaguarda de pinturas em tela e de preservação da madeira da capela com a remoção de quatro partes de batentes danificados por cupim foram substituídos por madeira doada de antiga fazenda cafeeira (1902) seguido por tratamento anti cupim.

No mesmo ano, sob a coordenação da arquiteta Rosa Maria Varella Silveira e apoio da comunidade, promoveu-se o tratamento do piso; no curso do tempo o ladrilho hidráulico português sofreu substituições, apresentando padrões alterados. As pinturas com sérios problemas de conservação foram retiradas e guardadas; a cruz sobre o altar, destruída por cupins, foi substituída utilizando-se cedro rosa originário de uma fazenda datada de 1890 e empregando-se o trabalho com enxó por dois artesãos da região, nas mesmas dimensões da original.

Emprego de materiais, programa, outras informações
Paredes auto-portantes de alvenaria de taipa de pilão com alicerces de pedra, com emprego de taipa de pilão, madeira e metal. Retábulo formado por treze telas trabalhadas com albumina e pigmentos (pintura mural ou de teto) com pequeno elemento de entalhe na parte superior da tela maior (peça trazida de Portugal). Piso hidráulico português (em convivência com tozettos recentes). Carpintaria processada com enxó, constando portas de pinho de riga (parcialmente danificadas por cupins); portões feitos com ferro fundido com ornamentos executados em forja e caixilharia travada com pregos de ferro artesanais em bigornas e forjas. Na análise dos batentes, “descobriu-se que em cada arco das portas foi aplicado uma camada espessa (aproximadamente dez centímetros) de pedra sabão”, material mais adequado para ser moldado, e sobre ela o batente de madeira. Em prospecção nas paredes de taipa da capela foram encontradas seis camadas de tinta bege (talvez, branco denso), marrom claro, azul colonial, azul celeste, bege (talvez, branco denso), quantil bege com pontilhado marrom, vinho e azul, verde (janeiro de 2001).

Ficha técnica do patrimônio

  • Bem/Edificação: Capela de Santa Cruz (também conhecida como Casa São Domingos)
  • Localização: Rua Santa Cruz, 350 (Largo de Santa Cruz), Cambuí, Campinas, SP, CEP 13024-100.
  • Utiulização Original: Capela de devoção comunitária
  • Tipologia: Um raro exemplar de arquitetura urbana de transição entre o colonial e o ecletismo (Ana Villanueva Rodrigues) e que apresenta, segundo Carlos Lemos, estilo pombalino neoclassicizante regionalizado.
  • Área Bruta: 450 m²
  • Arquiteto Responsável: Desconhecido
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