IAB Campinas

Palacete Barão de Ataliba Nogueira

O solar do Barão Ataliba Nogueira foi inaugurado em 1894.

Segundo Ana Villanueva: “O sobrado próximo da “matriz nova”, de autor desconhecido, fora construído em uma data posterior a 1890”, portando características próximas (esteticamente) das utilizadas na fachada da catedral. Erguido em tijolo, o edifício se utilizara de uma linguagem clássica sem restrições, presente “na construção do entablamento e do ático, aliado ao fato de já ter ocorrido a difusão dos condutores de águas pluviais”.

Para esta arquiteta: “As modernizações de linguagem clássica nos edifícios de Campinas em taipa-de-pilão (1a fase) e nas construções com “encamisamento” em tijolos (2a fase), eram ainda comedidas e limitadas, em relação ao preconizado nos tratados clássicos, que já circulavam no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, e estavam ainda ligadas à tradição construtiva da taipa-de-pilão, com um classicismo adaptado a esta técnica. O esforço para mudança e transformação desta realidade, e a ligação formal à estética da corte, tiveram como ponto focal as obras da “matriz nova”. A partir desta constatação, fica evidente que somente após o término da fachada principal da Catedral Nossa Senhora da Conceição de Campinas ocorreria a mudança nos demais edifícios (3a fase), com uma busca do classicismo ligado aos tratados de arquitetura, em especial ao Tratado de Vignola”

Para Luiz Claudio Bittencourt, membro do grupo preservacionista Febre Amarela que se engajou diretamente nos estudos do Solar do Barão Ataliba Nogueira, a ocorrência de uma modernização clássica em meio uma arquitetura originalmente de taipa, exigia atenção. Em seu entender, “na região denominada ‘oeste paulista’, as indicações (..) [sugeriam a presença] de uma arquitetura mais tosca, singela”. Aqui, “o neoclassicismo” parecia ter se “difundido tardiamente, dentro de um quadro de racionalização mais amplo, adequado as transformações sócio econômicas provocadas principalmente pela transição do trabalho escravo para o trabalho livre, e onde a reorganização do canteiro de obras (..) [ocupou] um papel importante nas alterações dos processos produtivos da construção, reorganizando também o desenho urbano da cidade. Muito provavelmente, esta arquitetura (…) [foi] a base de toda a linguagem classicizante largamente difundida entre o final do século XIX e início do XX (…) notadamente naquelas cidades onde a ferrovia tornou-se elemento de interligação e composição na organização urbana (…). Uma das fontes de informações preciosas são obras exemplares como esta antiga residência, não apenas por tratar-se de construção de Barão intimamente ligado a corte, mas fundamentalmente pelas características construtivas guardadas dentro do ‘artefato histórico’, porque revelam aspectos ligados ao conjunto de obras que utilizaram este tipo de linguagem nesta região” (BITENCOURT)

Tomando-o como “matéria prima, [como] documento vivo da história desta cidade e seu papel dentro da região denominada ‘oeste paulista’”, Bitencourt avançou nas prospecções das estruturas, dos elementos, das caraterísticas construtivas.. ao mesmo tempo em que teve a oportunidade de observar a edificação mais antiga (o solar) à luz  de uma edificação mais recente (Hotel Vitória), e daí vislumbrar outras relações; chegando a conclusão de tratar-se o velho solar de “um exemplar único deste classicismo de final de século tão difundido em nossa região, porque marca bem as diferenças daquela linguagem fomentada pela corte com a vinda da Missão Francesa”

Os levantamentos realizados serão tratados adiante, mas é importante observar que, para Bittencourt: “a propriedade do Barão ocupava a quadra de ponta a ponta na face da atual Av Campos Sales, mantendo acesso ao pátio interno nesta face da construção (…) Em assim sendo, longitudinalmente o pátio poderia ser potencialmente maior, até para receber melhor os equipamentos de serviços típicos da época, como concheiras, acomodações de criados e agregados”

Por outro lado, a porção urbana em que este Solar se fez inserido, também esconde um sentido particular. No entender do arquiteto: “A área em que se encontra a quadra cujo lote implantou-se a casa do Barão, só começou a ser ocupada a partir da segunda metade do século XIX, momento em que Campinas começava a tornar-se a principal cidade cafeeira de São Paulo. Momento também em que o desenho de característica orgânica e tendência linear, herdado do período da vila (quando os principais elementos de organização espacial eram a capela, a Casa de Câmara e Cadeia, o pelourinho e as praças do núcleo original), passavam a ser substituídos pela racionalidade do traçado hipodamico em uma nova área expansão urbana, onde a matriz, o teatro e mais tarde a estação ferroviária reorganizarão a nova direção tomada pelo desenho urbano da cidade. A casa do Barão liga-se ao final deste período de desenho urbano de Campinas, quando esta área já estava quase totalmente ocupada, e a estação ferroviária passava a atrair definitivamente em sua direção as principais casa comerciais da cidade. (…) A posterior adaptação da residência em hotel, enquadra-se na tendência de comercio adquirida pelas principais ruas de acesso a estação ferroviária”

Ficha técnica do patrimônio

  • Bem/Edificação: Solar do Barão Ataliba Nogueira
  • Localização: Av Dr Campos Salles, 778/834; Rua Regente Feijó, 1087
  • Utiulização Original: Residência da família Ataliba Nogueira
  • Tipologia: Estilo eclético com elementos neo-renascentistas italianos
  • Área Bruta: 2.333m²
  • Arquiteto Responsável: Dr Francisco de Paula Ramos de Azevedo
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