IAB Campinas

Casa de Saúde

O antigo Circolo Italiani Uniti, foi inaugurado em 1886 com projeto de Samuele Malfatti e Ramos de Azevedo para dar assistência, educação e lazer à colônia italiana, contando com recursos provenientes da venda de ações, de campanhas de arrecadação de fundos e de contribuições particulares importantes (Rocco de Marco, Tomaz Gonçalves Gomide, Giovanni Rosa).

Segundo Maria Cristina Chiaradia: “No início da década de 1880, Campinas contava com uma comunidade italiana que podia não ser muito numerosa, mas que possuía uma notável força social”. A criação do Circolo Italiani Uniti, em 1881, nasceu com 130 sócios, vindo a se constituir na “entidade mais importante” desta comunidade na cidade do século XIX. A iniciativa tinha como propósito “manter vivo, entre italianos o amor pela Pátria, e oferecer todo conforto moral e material dos patrícios aqui radicados” e, na ocasião da inauguração de sua sede, em 1886, a entidade contava com 290 sócios, trazendo como presidente honorário o banqueiro Rocco de Marco. A entidade, criada “por italianos que tinham uma posição social notável” alcançada num período anterior à grande imigração, também cobrava mensalidades, restringindo com isso uma maior participação.

Nesta ocasião, de fato, Campinas reunia várias associações italianas, entre elas o Clube Familiar XX de Setembro (1883), a Sociedade Artística Italiana (1884), seguindo-se outras como: o Clube Familiar Regina Margherita (1897), a Banda Musical Italo Brasileira, a Sociedade Lavoro e Progresso (1896). A cidade também contou com seis periódicos entre os anos de 1888 e a segunda metade do século XX, datando de 1903 a criação do Patronato degli Emigranti in Campinas (1903), destinado aos italianos pobres.

Mas, no período em que a sede social do Circulo se fez inaugurada, tinha início também um novo período de imigração, dirigindo-se os trabalhadores italianos para as fazendas de café, já numa condição distinta da vivida pelas primeiras famílias. A história do Circulo se insere nesta trajetória maior de inserção da comunidade na cidade; trajetória que demarcou o cumprimento, pela comunidade italiana, de importantes e variadas funções urbanas e rurais, originando-se daí o projeto de constituir um centro recreativo, cultural e beneficente, dotado de uma escola e de uma casa caritativa para as famílias italianas.

Na trajetória da escola, podemos identificar com clareza estas motivações. As atividades escolares tiveram início nas quatro salas de aula do novo prédio e já no primeiro mês elas contabilizaram a presença de 106 alunos (75 meninos e 31 meninas com a idade mínima de 6 anos).

As obras da ala esquerda tiveram início logo após e no momento em que Ramos de Azevedo deixou a cidade para viver em São Paulo com a família. Na nova etapa construtiva, a cidade e a instituição enfrentavam surtos da epidemia de febre amarela, participando o Circulo Italiani dos esforços de atendimento.

Com apoio da Câmara Municipal, as salas de aula foram transformadas em enfermarias, assumindo os cuidados médicos o Dr Costa Aguiar que, contaminado pela doença, vem a falecer. No curso dos anos seguintes, a epidemia sofreu abrandamentos, mas se manteve presente, vivendo a cidade importantes intervenções sanitárias (já iniciadas num período anterior, quando do enfrentamento de epidemias de varíola). No Circolo, as atividades de levantamento de fundos para as obras seriam retomadas e a ala esquerda foi concluída em 1894.

Nesta ocasião, mais precisamente em 1896, surgiu um novo surto de febre amarela e a região central de Campinas mereceu grande atenção da inspetoria sanitária que desencadeou ações de “desinfecção” (atendimento hospitalar, remoção de doentes, enterramentos) coordenadas pelo Dr Emílio Ribas. A febre amarela foi erradicada da cidade em 1904.

As obras seriam retomadas em seguida, contando com fundos originados de tômbolas, loterias, bailes, cartões postais. A ala direita do edifício foi concluída em 1904, ocasião em que os associados (e os não associados dispostos a pagar pelas atividades da escola) passaram a contar com jardim da infância (1900), com Curso Preparatório para os exames do Ginásio e da Escola Complementar (1904), com a Escola Noturna (1907) e com a escola Dante Alighieri, destinada a aprimorar conhecimentos da comunidade (1910). Estas atividades, entretanto, perderam força a partir de1913 e se enfraqueceram ainda mais com o início da Iª Guerra Mundial.

Neste sentido, em 1918, num período em que a cidade e a instituição voltam a enfrentar nova epidemia, agora de gripe espanhola, a direção deliberou pelo deslocamento das atividades pedagógicas para um prédio alugado e ampliação das ações médicas no interior da instituição, passando ao engenheiro Enrico Fortini, a incumbência de ampliar/construir novas dependências hospitalares. O hospital passou a funcionar (ainda a titulo precário) em 1919 e em 1924, recebeu duas alas superiores, serviços de radiografia, RX e tratamentos especializados de radioterapia.

Data também deste período a aquisição de novos terrenos. A Prefeitura, originalmente, doou um terreno contiguo, seguindo-se a aquisição de três lotes na Rua Duque de Caxias para construção de lavandaria, depósitos, galinheiro. Pouco tempo depois, adquiriram-se outros imóveis e terrenos entre as ruas Duque de Caxias, Irmã Serafina, General Marcondes Salgado para a instalação de necrotério, entre outras atividades e atribuições.

Em 1926, num esforço de reorganizar a gestão e atendimento da instituição, o Circulo contrata a Congregação das Irmãs Apostólicas do Sagrado Coração de Jesus, procedente da Itália; as irmãs permanecem no hospital até 1995.

Em 1938, em razão da IIª Guerra Mundial e do Decreto de Lei nº 383 da República Brasileira, o Circolo se vê obrigado a alterar seus estatutos, a incorporar em sua direção 2/3 de sócios brasileiros e a alterar seu nome. O hospital transforma-se, então, em 1942, na Casa de Saúde Campinas. Em 1946, com o retorno de Irineo Checchia à direção do hospital, retomam-se os trabalhos de planejamento para edificação de uma nova ala, inaugurada em 1950, sete anos antes da instituição transformar-se em utilidade pública.

Ficha técnica do patrimônio

  • Bem/Edificação: Circolo Italiani Uniti – Casa de Saúde Campinas
  • Localização: Praça Anita Garibaldi, 28, Centro, Campinas, SP, CEP 13015-180.
  • Utiulização Original: Agremiação social, educativa e caritativa
  • Tipologia: Estilo eclético com elementos neo-renascentistas
  • Área Bruta: 4.970 m²
  • Arquiteto Responsável: Francisco de Paula Ramos de Azevedo, Samuele Malfatti, Enrico Fortini, Julio E Latini, Angelo Filizetti (em várias fases)
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