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02
out

A emoção necessária por Roberto Ghione

As cidades brasileiras, nas últimas décadas, cresceram com muita construção e pouca arquitetura.

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Para os interessados em obras relevantes, visitar qualquer cidade à procura delas implica realizar longas peregrinações entre inúmeras construções intranscendentes e burocráticas, realizadas com intuito comercial e não cultural. Esta característica é o sinal de um tempo marcado por profundas transformações sociais, demográficas e urbanas, cujos resultados materializam na imagem das cidades os valores de um tempo crítico da humanidade em geral e da sociedade brasileira em especial.

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A arquitetura transcendente, aquela que apela à sensibilidade e originalidade para valorização da cidade, tem poucas oportunidades de aparecer no contexto sócio-cultural contemporâneo. Quando ela surge, a emoção evidencia o contraste com a banalidade dos edifícios corriqueiros e motivam a reflexão acerca do papel que devem assumir a arquitetura como expressão cultural e o arquiteto como agente de cultura.

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Poucas cidades do Brasil possuem hoje o privilégio de contar com edifícios que provoquem essa reflexão. Porto Alegre é uma delas. O edifício da Fundação Iberê Camargo, projetado por Álvaro Siza Vieira, é uma jóia encravada entre a orla do rio Guaíba e a falésia verde do local de implantação.

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O volume maciço, escultórico e introspectivo, que tende a se desmaterializar em faixas de construções flutuantes, define uma tensão especial entre cheios e vazios, entre um sólido que se desvanece no ar contido no pátio de acesso.

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Poderoso na expressão, o edifício apela à originalidade da configuração plástica e espacial. O monocromo marca o jogo volumétrico sábio, que utiliza a luz natural como matéria que constrói e define espaços e volumes com sombras, especialmente em dias ensolarados, quando o branco contrasta com o azul intenso do céu.

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O interior oferece uma espacialidade integradora e ao mesmo tempo cheia de surpresas. Apôs subir por elevador até o último pavimento, é possível apreender a totalidade das salas de exposição através do grande vazio central. Entre um pavimento e outro, o visitante “sai” do contexto das salas para mergulhar em “túneis” elevados e fechados, marcados sutilmente por pontos de iluminação natural ou artificial. De tanto em tanto, pequenas janelas recortam imagens do rio Guaíba e da cidade de Porto Alegre. Objetos da paisagem ficam incorporados à arquitetura mediante o recurso do emolduramento visual.

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O jogo de sensações que oferecem os espaços múltiplos e integrados, junto com as “fugas” matizadas com as vistas recortadas, garante um percurso interno rico e instigante. A iluminação interna contribui na definição e contrastes entre linhas, planos e volumes com marcação de branco sobre brancos. Os detalhes construtivos refinadíssimos elevam a simplicidade formal e construtiva ao grau máximo de sofisticação.

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Visitar obras como o edifício da Fundação Iberê Camargo é um convite a lavar a alma profissional e retomar a confiança na arquitetura como manifestação artística e cultural.

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Em tempos de excessiva proliferação de banalidade e vulgaridade é preciso contra atacar com arte, com sensibilidade e com a emoção necessária para acreditar que ainda é possível reivindicar nossa civilidade aprimorando, com talento e dedicação, as escassas oportunidades que se apresentam para construir a realidade sonhada.

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  • Arquiteto Roberto GhioneRoberto Ghione é Arquiteto e Diretor do Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento de Pernambuco (IAB/PE)
  • Instituto de Arquitetos do Brasil / Depto. PE
  • Rua Jenner de Souza nº 130. Derby. Recife/PE CEP 52010-130
  • Fone: (81) 32221576 – www.iabpe.org.br @iabpe www.facebook.com/iabpe
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