IAB Campinas

Blog

22
abr

Arquiteto pede nova lei para uma nova cidade

O Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil Núcleo Campinas e Diretor da COMURB Arquiteto Alan Silva Cury foi entrevistado pela reportagem do  Jornal Correio Popular na última Sexta-feira dia 19 de Abril no Evento “Olho no Olho” do SECOVI – SP Regional Campinas; o evento teve a participação do Prefeito de Campinas Jonas Donizette e de vários secretários, autoridades e o Presidente do SECOVI – SP e Reitor da Universidade SECOVI João Crestana.

[spacer size=”10″]

Perguntado sobre  quais são rumos que devem ser tomados no planejamento urbano de Campinas, o Arquiteto Alan Cury defendeu uma ótica moderna de urbanismo, com tudo perto.

[spacer size=”10″]

Acompanhe a matéria com Maria Teresa Costa teresa@rac.com.br

[spacer size=”10″]

O presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IABCampinas)Alan Cury, defende um novo projeto de cidade para Campinas, que não segregue e que seja compactada, onde as pessoas possam chegar ao trabalho em 20 minutos a pé e onde residências, comércios e serviços possam conviver no mesmo espaço. A cidade espraiada, diz, é coisa do passado. Mas, para que Campinas adote a tendência atual de urbanismo, será preciso uma mudança radical na lei de uso e ocupação do solo, um dos temas que será discutido na próxima quinta-feira em encontro da Rede Imobiliária de Campinas.

[spacer size=”10″]

Correio Popular – Para onde vai Campinas com o tipo de urbanismo que ela tem? 

[spacer size=”10″]

Alan Cury – A complexidade de leis não é benéfica para a cidade e não é de hoje que a gente fala isso. É preciso rapidamente uma mudança na lei de zoneamento para que a cidade volte a olhar para o futuro e deixe de viver no passado. Quando a lei foi feita, ela tinha uma ótica de carro, o transporte público era ônibus e hoje há outros meios de mobilidade, com ciclofaixa, ciclovia, trem. Então é uma lei superada.

[spacer size=”10″]

Que tipo problema ela tem?

[spacer size=”10″]

Como é uma lei baseada no carro e no ônibus, ela segrega. Ela diz assim: nessa região só pode habitação, naquela só indústria, naquela só comércio. Com isso, ela congela os produtos atuais de mercado como, por exemplo, ter em uma única torre todo tipo de atividade. Hoje, ou você tem um prédio de residências ou você tem um prédio comercial. A legislação não pode ser rígida. Ela tem que ser indutora. Tem que possibilitar um mix de atividades para aproveitar a infraestrutura da cidade e viabilizar um eixo vertical que não usa toda a área da cidade.

[spacer size=”10″]

Mix de atividades em uma única torre, por exemplo, é tendência urbanística atual?

[spacer size=”10″]

É uma tendência mundial e que também já está presente no Brasil. Cidades como Jundiaí, São Paulo, Maringá e Cuiabá trabalham nessa linha, dando liberdade para que os profissionais de desenvolvimento, arquitetos, tomem decisões para que o ganho seja revertido em benefício da cidade, como áreas verdes e investimentos em habitação popular. Hoje, nosso planejamento é feito pelas incorporações. O incorporador diz que vai fazer um prédio no terreno e faz, está resolvido, está respeitando uma lei. Nossa visão é diferente. Acho que devemos ver por regiões para avaliar os impactos de forma mais abrangente.

[spacer size=”10″]

“A gente devia estimular que as novas empresas de call center fossem para o Centro e não para as áreas afastadas”. Arquiteto Alan Cury

[spacer size=”10″]
Arquiteto Alan Cury Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil Núcleo Campinas

"A gente devia estimular que as novas empresas de call center fossem para o Centro e não para as áreas afastadas". Arquiteto Alan Cury

[spacer size=”10″]

Campinas tem espaço para isso?

[spacer size=”10″]

Tem muito espaço, por exemplo, a recuperação do Centro. Por que o Centro à noite está desocupado? Porque a legislação é tão rígida que não vê a nova tendência de mercado. A gente devia estimular que as novas empresas de call centers fossem para o Centro e não para áreas afastadas. No Centro, nós temos edifícios enormes, desocupados. Esse tipo de atividade (os call centers) tem muitos jovens trabalhando, movimenta vários tipos de mercado. A cidade precisa de estímulos para continuar vivendo.

[spacer size=”10″]

Sempre se fala em incentivar moradias no Centro, mas até agora nenhum prefeito deu incentivo.

[spacer size=”10″]

Moradia é essencial. Veja o que está ocorrendo com São Paulo, que liberou linhas de investimentos habitacionais, da ordem de 2 mil habitações para os próximos dois anos, para trazer gente para morar e trabalhar. São planos audaciosos, que precisam de arrojo do poder público e de apoio técnico dos empresários para funcionar. Lá vai funcionar porque está havendo uma integração forte entre metrô, trem, ciclovias. A cidade compacta, que concentra a vida urbana, tem uma infraestrutura muito favorecida.

[pullquote align=”right”]Eu não posso ter um hospital a 20 quilômetros, eu tenho que ter uma clínica perto; a escola do meu filho tem que estar próxima.[/pullquote]

[spacer size=”10″]

Existe como tornar Campinas uma cidade compacta?

[spacer size=”10″]

A legislação de Campinas faz com a que a cidade se espraie e que seja zoneada, inclusive, por poder aquisitivo. Na APA de Sousas são exigidos lotes mínimos de mil metros quadrados, o que já define a ocupação para a população de alta renda, segregando quem vai trabalhar lá, gerando uma locomoção muito grande da pessoas que vão trabalhar em Sousas, o que gera o que estamos vendo hoje, que é o grande tráfego nas rodovias. Não pode ter habitação popular em Barão Geraldo, por exemplo, e isso atrapalha a cidade. Temos que voltar a adensar a cidade. A gestão anterior entendia que o adensamento era o problema. Mas ele é benéfico. A gente adensa para que a infraestrutura e a mobilidade sejam concentradas e o cidadão não precise andar quatro horas para trabalhar. Em 20 minutos a pé ele chega ao trabalho. Isso é o ideal de cidade.

[spacer size=”10″]

Como se faz para chegar, a pé, em 20 minutos ao trabalho?

[spacer size=”10″]

Você estimula a habitação mista, não só de alta renda. Por exemplo, fazer um empreendimento que tenha próximo dele apoios que vão trabalhar nesse local. Eu tenho que atrair as pessoas para morar em Campinas e não jogá-las para Sumaré, Hortolândia e cidades-dormitórios ao redor. E por que não atraí-las para o Centro, que tem a melhor infraestrutura da cidade? Temos que ter para Campinas um novo projeto de cidade, aproveitando os casos de sucesso que existem no mundo e no Brasil.

[spacer size=”10″]

É possível ter uma cidade sustentável assim?

[spacer size=”10″]

O Carlos Leite, pós-doutor em urbanismo, diz o seguinte: Você quer ser sustentável? Então more na cidade, procure uma cidade grande. Ele diz isso porque as pessoas têm o conceito de que sustentabilidade é ter o verde, o terreno grande com grama. Mas, fazendo isso, você está  individualizando a cidade e isso faz mal para o ser humano. Nós somos urbanos. O viver no coletivo é uma necessidade, porque precisamos trabalhar, morar, ter lazer, educação. Eu não posso ter um hospital a 20 quilômetros, eu tenho que ter uma clínica perto; a escola do meu filho tem que estar próxima. Eu não posso basear a minha cidade só nas rodovias porque, quando eu faço isso, eu jogo para a estrada um ônus que não é dela e aí o sistema começa a conflitar e ocorre o que estamos vendo hoje em Campinas: todo dia as rodovias estão parando.

[spacer size=”10″]